domingo, 28 de outubro de 2012

Quem (ou o que) Faz a Revolução?


    
     Não existe um meio de se instalar o socialismo em uma sociedade a não ser através da revolução. Toda transição que se leva a instauração do socialismo é uma revolução. Seja ela por vias pacíficas e/ ou eleitorais¹, por revoluções armadas como na Rússia em 1917, por guerrilhas rurais como em Cuba ou guerras de libertação nacional, como em países da África na segunda metade do século XX que instarou o socialismo em países como Angola e Moçambique. Porém, quais seriam as condições que levam a uma revolução? São necessárias as causas materiais, as causas objetivas como diz Marx? Sim, obviamente. As causas objetivas estão ligadas ao desenvolvimento do capitalismo, instalações de fábricas, a burguesia organizada. E as condições Subjetivas ligadas ao ideal. Ou seja, a consciência de classes. As condições objetivas como a industrialização de uma nação por exemplo, dão origem as condições subjetivas que seria a conscientização dos trabalhadores e, a partir dai, sua organização como classe.  

     Quero aqui justamente tratar da questão que tomo como a mais fundamental para uma revolução socialista, a organização do proletariado em classe, a conscientização das massas. Eis o fator que considero mais importante para uma revolução socialista. Hoje, ao redor de todo o mundo não há lugar onde o capitalismo não tenha estendido suas garras. Se na época de Marx ele tinha o enorme cuidado em afirmar que a revolução se daria em um país capitalista desenvolvido, hoje podemos esperar de qualquer lugar do mundo um levante revolucionário. Se determinados países apresentam ainda uma base mais voltado para as relações agrícolas do que industriais, essas relações agrícolas com certeza são comerciais. O campesinato é também uma vítima do capitalismo e oprimido por ele.

     Apesar desse desenvolvimento das causas objetivas, não vemos grandes revoluções ocorrerem. E qual seria a causa? Para esclarecer usarei o exemplo da Rússia. Em 1917, países como França, Inglaterra e Alemanha o capitalismo era bem mais desenvolvido nesses países, ao contrário da Rússia, que ainda não tinha se libertado totalmente dos resquícios do feudalismo. A servidão camponesa na Rússia só fora abolida em 1861. O Czarismo ainda era a forma de governo e a Duma (espécie de conselho com deputados eleitos) funcionam meramente como um órgão consultivo sem terem de fato algum poder. 80% da população era composta por camponeses. Como poderia o socialismo surgir primeiramente naquele país que Marx sempre deu pouca atenção em sua obra?
 
 

     Em seu texto, A Revolução Contra O Capital, Gramsci diz que a Revolução Russa foi feita mais de ideias do que de fatos. Para Gramsci, a Revolução Russa era a revolução contra O Capital de Marx. A Revolução contrariava a análise positivista feita por muitos dessa obra, que achavam que a transição para o socialismo tinha de ser feito através de ciclos, ou seja, primeiro o desenvolvimento do capitalismo plenamente, depois a organização dos operários, conscientização das massas e dessa forma a revolução socialista. A Revolução na Rússia se deu não pelo desenvolvimento do capitalismo, mas sim pela organização dos trabalhores. A industrialização na Rússia se deu de cima, pelo próprio governo Czarista. A burguesia era fraca na Rússia, ela ainda aspirava a tomada do poder.

     Essa industrialização vinda de cima, concentrada principalmente em São Petersburgo e em Moscou formou um operariado organizado e combativo. As ideias socialistas vindas do ocidente se misturaram com a oposição ao czarismo de teóricos russos como Bakunin e Herzen. A guerra mundial fora desastrosa para a Rússia. O exército russo era composto principalmente por camponeses sem vestimenta, alimentação ou armamentos adequados. Em 1917, Em São Petersburgo não havia suprimentos para a população, a crise tornou-se insuportável. Os operários saíram em marcha, os Sovietes (comitês de organização operárias surgidas em 1905) voltaram a surgir. Os Sovietes representavam a forma de organização operária mais combativas e politizadas da história. Participaram ativamente das revoluções russas. Em Fevereiro de 1917 o Czarismo deixara de existir na Rússia.

     O governo “democrático” da Duma que vinha a se encaixar num modelo político basicamente parlamentar não fora capaz de atender as demandas da população. A guerra continuava enquanto a população na Rússia continuava a sofrer. Os Bolcheviques liderados por Lênin fizeram a revolução de outubro (novembro pelo nosso calendário), dando origem assim a primeira revolução socialista da história.
 
 

     Um país atrasado como a Rússia surgiu a revolução. Nas palavras de Gramsci: Foram revolucionários que criaram as condições necessárias para a realização completa e plena do seu ideal. Criaram-nas em menos tempo de que o teria feito o capitalismo”. Vemos então que apesar das condições materiais da Rússia não estarem completamente formadas, os próprios revolucionários criaram essas condições. A ideologia foi mais forte do que qualquer limitação teórica e material. Lênin soube perceber a oportunidade história única que se apresentou, e tomou um passo que mudou a humanidade para sempre.

    Desta forma quero dizer que não adianta as condições objetivas estarem formuladas com o pleno desenvolvimento da economia capitalista, se o trabalhador não for conscientizado. E por trabalhador não me refiro somente ao operariado fabril, mas sim a todos os ramos do trabalho que são alienados pelo capitalismo. A crise econômica de 2008 que até agora mostra seu efeito, principalmente em países como Grécia, Alemanha, Portugal e Espanha não deram início por si sós a revolução socialista. A revolução é feita por pessoas e não pelo próprio sistema. Não basta esperar de braços cruzados uma situação propícia, como se a massa fosse se revoltar devido a uma grande crise e automaticamente lutar por uma revolução.

     Na verdade, grandes crises e problemas na sociedade por vezes fazem elas aderirem ao fascismo, como no caso da Alemanha e Itália. O Fascismo sempre se apresenta como uma solução mais rápida e de maior compreensão. Para a sociedade não cair no fascismo em momentos de crise, a conscientização das massas deve ser feita a todo o tempo. Para a revolução ser vitoriosa, o fator mais importante é o trabalhador conscientizado, combativo. É dele que Marx se refere como o coveiro do capitalismo. Este foi um fator que Lênin soube perceber e usar muito bem no caso da Revolução Russa.

Bibliografia: GRAMSCI, Antonio. A Revolução Contra O Capital. In: http://marxists.org/portugues/gramsci/1917/04/24.htm



1 Como tentou Salvador Allende no Chile e como Hugo Chavez tenta fazer hoje na Venezuela.

domingo, 7 de outubro de 2012

História do Futuro


Houve um tempo em que tudo era muito estranho, mas ao mesmo tempo estranhamente normal. As notícias sobre sequestros, assaltos, estupros, violência, tráfico de drogas, já não causavam espanto. As pessoas não se interessavam por tais assuntos, preferiam ignorar. Existia uma tal de “democracia autoritária”. As pessoas não entendiam de política, não se interessavam por política, não participavam da vida pública, porém votavam. Deixavam ser governadas, pagavam para ser governadas. E isso não era questionado, pelo menos não por grande parte da população. A maior preocupação da grande maioria era o “momento”. Viver o momento, trabalhar para ter dinheiro, ter dinheiro para comprar sua casa, seu carro, sair pra festas, ter relacionamentos que por muitas vezes eram tão egoístas e mesquinhos quanto a sociedade em que se vivia. Era um reflexo dela. O amor não era o que nos movia. Procurávamos ser amados em uma sociedade em que só valorizava o dinheiro, as coisas materiais. Então acabamos por nos tornar objetos. Éramos usados e descartados por pessoas. Por ditos “amigos”, namorado(a)s, patrões e até por alguns familiares. Isso levou com que muitos se isolassem. No início do século XXI a depressão aumentava cada vez mais. Os jovens sem perspectiva, muitos querendo alcançar a tal “felicidade” prometida pelo sistema capitalista vendia seu tempo, seu corpo para grandes corporações, trabalhando freneticamente para aumentar capital. recebendo para viver, mas para viver uma vida sem sentido. E estávamos tão acostumados a isso que riamos e ridicularizávamos quem pensava diferente. Sim, existiam pessoas que pensavam diferente. Eram idealistas. Queriam mudar, lutavam, protestavam, tinham algo diferente na alma, algo especial que muitos desconheciam. Eram poucos, mas o suficiente pra incomodar os poderosos. Mais enquanto maior parte da população vivia na ignorância o sistema ainda se mantinha de pé.

 Porém, algo aconteceu. O sistema tornou-se cada vez mais opressor. Os recursos naturais ficaram escassos. A população pagava as consequências enquanto a burguesia ainda se mantinha no luxo. Exigia-se cada vez mais e mais sacrifício da população. Guerras ocorreram. Foi-se grande o sofrimento do povo. Porém, o grupo pequeno de idealistas que não era ouvido, agora chamava a atenção do povo com suas ideias de revolução. Muitos entraram pra esses grupos e partidos que falavam dessas ideias surgidas no Século XIX, porém que se mostravam muito atuais. Soldados se recusaram a lutar, Trabalhadores pararam fábricas. Surgiu uma pessoa em especial. Tinham muitos grandes homens e mulheres, mas um em especial chamou a atenção do povo. Ele não parecia ter medo, não parecia se importar com sua própria vida, tinha uma grande coragem e um discurso que impressionava a todos. Seu nome não cabe colocar aqui, pois não era movido por interesses pessoais. Mas existia uma ideia por atrás do homem. Uma idéia que não morria, algo que era eterno. Foi desta forma que começou. O que parecia impossível estava se tornando real. Aqueles que diziam ser utopia não podiam acreditar que o sonho finalmente estava se tornando realidade. E essas pessoas que tanto duvidaram estavam tão acostumadas com o antigo sistema que não podiam viver sem ele. E pegaram em armas para defendê-lo. Mas dessa vez foi diferente. As pessoas tinham finalmente acordado, não tinha como voltar atrás. Estavam cansadas de uma vida tão fútil, queriam experimentar algo novo. E mesmo que não desse certo, preferiram tentar do que simplesmente deixar as coisas como estavam. E desta forma governo por governo foi caindo e substituído por um governo popular, uma sociedade onde não existiam mais classes sociais e todos trabalham não para si mesmo, mas para o bem de toda a sociedade. Essa história pode parecer maluca contada para você que não viveu tudo isso. Mas eu juro, existiam pessoas que achavam que a nossa sociedade atual não era possível. Achavam ser o socialismo algo impossível, que não daria certo. Provamos a essas pessoas que estavam erradas. Que nada é impossível quando se está determinado e quando pessoas se unem por um ideal.

domingo, 28 de agosto de 2011

Breve explicação sobre materialismo dialético


A teoria de Marx é revolucionária. Mostra como o homem, através de suas próprias ações pode se libertar da opressão e das desgraças que ele mesmo criou. Diante da teoria marxista, somos incapazes de ficarmos indiferentes, como se ela não afetasse o nosso dia a dia, e os diferentes aspectos de nossa sociedade. Ignorar o que Marx disse não é o mesmo que ignorar um simples comercial de xampu. Podemos ficar indiferentes quando o que está sendo posto em jogo é o futuro da humanidade? O conflito capitalismo versus socialismo não é um simples conflito político. O que se está em discussão é se o homem sobreviverá no próximo século. Se ainda existirão recursos naturais, ou se o capitalismo tratará de destruir a tudo. O que está em jogo é uma nova forma de sociedade, de vida. Uma sociedade onde o trabalho não seja sinônimo de alienação e opressão, mas sim de liberdade.

Alguém que resolve tomar posição e se definir como comunista precisa, primeiramente, reconhecer que está no capitalismo à fonte da maioria dos males da humanidade. Segundo, como diria Lênin, é preciso “estudar, estudar e estudar”. Estudar tanto o funcionamento da sociedade capitalista, quanto a própria teoria marxista. E para se entender o marxismo é preciso conhecer os princípios de sua filosofia. Conhecer o que é materialismo histórico e materialismo dialético. Marx e Engels, baseando-se na filosofia hegeliana, desenvolveram a teoria do materialismo dialético. A dialética hegeliana tem um caráter idealista. A dialética, em contraposição com a metafísica, explica o mundo através do conflito de idéias. Enquanto para a metafísia o mundo é sempre o mesmo, o homem sempre terá a sua mesma natureza e será sempre igual. Ou seja, algum utlizando-se da metafísica poderia dizer que o mundo e a sociedade não mudará porque o homem tem a natureza má. Sempre existiu exploração em todas as sociedades e, portanto, sempre existirá. Os metafísicos analisam assim, não o todo, mas o objeto em sua forma isolada. Analisa, por exemplo, o Estado por ele mesmo. Assim, analisa por suas formas jurídicas, por sua lei oficial, por seu discurso. Não o relaciona com o restante da sociedade.

Na dialética, o objeto está em constante mudança, não tendo uma natureza imutável e uma ordem inalterável. Não se analisa partes isoladas, mas o objeto e sua relação com o meio. O Estado neste caso não teria lógica se analisado de forma separada. O Estado é um componente da sociedade, não mais nem menos importante do que o todo. Ele deve ser entendido como um instrumento da sociedade a qual pertence. A qual classe social está a serviço, defendendo quais interesses, se é afetado pela economia e a que ponto a sociedade altera este Estado. Assim, só podemos investigar a realidade como um todo. As coisas são analisadas em seu movimento.

Segundo o método dialético, as idéias então não são imutáveis. A sociedade evoluiu graças à própria ação do homem, e das mudanças em seu pensamento, do seu modo de ver o mundo. Das mudanças decorrentes também do mundo material, das forças de produção, etc. Por exemplo, uma idéia ou forma de ver o mundo que vigorava durante o absolutismo se choca com uma Nova idéia de sociedade do liberalismo, criando assim um novo modelo, que é a sociedade industrial moderna. O ideal do absolutismo é a tese, que se confronta com o liberalismo que é a antítese. Deste confronto, surge a síntese, que é a sociedade contemporânea. Essa nova sociedade, com seus novos valores formam uma nova Tese, que é a sociedade capitalista. Assim, a antítese do sistema capitalista é o proletariado que formaria uma nova síntese: o comunismo!

Porém, a dialética de Hegel é idealista, ou seja, o princípio de tudo é o Espírito universal. A consciência, o espírito, é quem da forma ao material. Marx propõe a inversão desse esquema. Para Marx, é o mundo material quem dá as condições para o surgimento das idéias, da consciência. Este é o materialismo dialético. O materialismo histórico é o método dialético usado para se analisar a história das sociedades. Historicamente, o desenvolvimento das forças produtivas, interferindo diretamente nas relações sociais de produção criam, criam a luta de classes. Por este motivo, Marx explica em O Manifesto Comunista que “a história da humanidade até os dias de hoje tem sido a história da luta de classes”. São as condições materiais de opressão de uma classe por outra que dão as condições ideológicas necessárias para transformação da sociedade. Porém, lembre-se que na dialética não se analisa as partes em isolado. Ou seja, a luta de classe é a expressão de como se da essa luta, porém, os processos que a rodeiam como religião, cultura, política, ciência, etc. compõem ao todo esta sociedade na qual se da o confronto de classes.

Este materialismo marxista foi de certo influenciado por Feuerbach (que também bebeu da fonte de Hegel). Feuerbach critica A Idéia Absoluta de Hegel, que seria a representação de Deus. Para Hegel, o Estado Perfeito seria formado primeiro pela Idéia Absoluta para depois ser posto em representação no mundo físico. Feuerbach procura investigar o mundo como ele se apresenta, colocando a idéia religiosa de Hegel de lado. Porém, Feuerbach, apesar de ser materialista, coloca o homem, o ser, como um produto isolado, individual, não o relacionando com o conjunto da sociedade. Reside ai a crítica de Marx a Feuerbach. O homem é um ser social, relacionado ao conjunto da sociedade, só podendo ser entendido se comparado a ela. O homem é um produto de seu tempo, inclusive sua religião, que serve a este ou a aquele interesse. No capitalismo, a religião serve então aos interesses da burguesia, não sendo um simples delírio do homem, mas uma forma de alienação e controle social.

Feuerbach também não dava um sentido prático a sua teoria, ficando somente no campo da análise. Já Marx dava um sentido revolucionário ao seu materialismo, chamada de práxis. Marx resume isto em sua última Tese contra Feuerbach: “Até agora, os filósofos só fizeram interpretar o mundo de maneiras diferentes; cabe transformá-lo”. Feuerbach não considera a ação do homem como transformadora da realidade, caindo no campo de vazio. Marx, ao juntar o materialismo de Feuerbach com a dialética de Hegel, percebe que A atividade humana constrói a realidade. Como o próprio Marx afirma em o 18 Brumário de Luís Bonaparte: “Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade, em circunstâncias escolhidas por eles próprios, mas nas circunstâncias imediatamente encontradas, dadas e transmitidas pelo passado”.

As condições do mundo material da origem a consciência revolucionária que é, portanto, capaz de transformar a sociedade, porém, não exatamente como planejado, pois tudo está limitado a realidade apresentada e as idéias devem ser adaptar a esta. Esta é a práxis, fundamental para se entender a teoria marxista. O marxismo, portanto, não é um dogma, mas uma sim teoria viva, que se adapta as condições da realidade.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Poder e Luta de Classes



A tradição marxista ortodoxa coloca o poder localizado no Estado. A burguesia, desse modo, governa a sociedade porque possui o controle do Estado. A antítese deste poder seria o partido comunista. Para um partido comunista tomar o poder, este deve se equiparar a um aparelho de Estado, com todas as suas regras, disciplinas, hierarquia. Seria uma espécie de um projeto estatal, um mini-estado. Um modelo do que será o futuro estado comunista.

Porém, uma questão que surge é: estaria o poder localizado somente no Estado? Ou tomando o poder de Estado obtêm-se também o controle de toda a sociedade, sendo capaz a transformação de uma sociedade capitalista para uma socialista e posteriormente comunista?

Segundo a obra de Michael Foucault, o poder não é um instrumento no qual podemos possuir ou adquirir. Existe na verdade múltiplos poderes, relações de poder. Certamente que Foucault não é marxista, mas não me incomodo de usá-lo aqui para explicar o funcionamento das relações de poder. Não se trata também de negar Marx, mas sim de contribuir para o pensamento dialético, com novos dados e experiências que nos são apresentadas.

Sendo então o poder uma prática e não um objeto, como devemos então buscar a “tomada” do poder? O poder não está situado somente no aparelho de Estado. O poder é uma teia de relações. Todos o praticam. Em suas relações familiares, trabalhistas, religiosas, etc. Sendo assim, para a transformação da sociedade nos vemos diante de um problema bem mais complexo do que imaginávamos.

O Estado é somente uma parte da teia de poderes que sustenta o capitalismo. É de certo o poder mais visível, situado a nível macro. Porém, distituindo a burguesia do poder de Estado, não significa que ela seja desalojada das restantes relações de poderes a nível micro – Igrejas, escolas, quartéis, prisões, hospitais, clubes, imprensa. Todas essas instituições carregam em si a ideologia burguesia e praticam também relações de poderes burgueses. Citando Foucault:


“(...) a tomada do aparelho de Estado deve ser considerada como uma simples ocupação com modificações eventuais ou deve ser a ocasião de sua destruição? Você sabe como finalmente se resolveu este problema: é preciso minar o aparelho, mas não completamente, já que quando a ditadura do proletariado se estabelecer, a luta de classes não estará terminada... É preciso, portanto, que o aparelho de Estado esteja suficientemente intacto para que se possa utilizá-lo contra os inimigos de classes. Chegamos à segunda conseqüência: o aparelho de Estado deve ser mantido, pelo menos até um certo ponto, durante a ditadura do proletariado. Finalmente, terceira conseqüência: para fazer funcionar estes aparelhos de Estado que serão ocupados mas não destruídos, convém apelar para os técnicos e os especialista. E, para isto, utiliza-se a antiga classe familiarizada com o aparelho, isto é, a burguesia. Eis, sem dúvida, o que se passou na URSS. Eu não estou dizendo querendo dizer que o aparelho de Estado não seja importante, mas me parece que, entre todas as condições que se deve reunir para que o processo revolucionário não seja interrompido, uma das primeiras coisas a compreender é que o poder não está localizado no aparelho de Estado e que nada mudará na sociedade se os mecanismos de poder que funcionam fora, abaixo, ao lado dos aparelhos de Estado a um nível muito mais elementar, quotidiano, não forem modificados.”
*

Desta forma, é necessário quebrar toda a base de sustentação da burguesia, e não somente o Estado. Se a burguesia se mantivesse no poder somente pelo Estado, sua base de sustentação seria muito frágil. Bastaria somente reunir os operários e camponeses, armá-los e guiá-los na tomada do poder. Mas isto não ocorre porque o Estado não tem função só de reprimir e alienar, mas também de estimular, criar, moldar. Não é porque uma pessoa é operária que ela necessariamente é contra o capitalismo e a favor do socialismo. Quantos trabalhadores vocês conhecem que querem derrubar este sistema, implantar o socialismo e lutar pela construção deste? Não muitos eu creio. E quantos trabalhadores desejam se integrar ao sistema, ter um carro do ano, ser dono de uma empresa, receber um bom salário, porém, sem questionar o capitalismo? Pensando em “amenizar” sua exploração com um emprego melhor, mas sem pensar no restante da sociedade e naqueles que nunca conseguiram mudar a sua situação? Estes sim, vemos aos montes.
Devemos atribuir este aspecto somente a questão da alienação? Creio que eu não. Nem todo trabalhador que defende o capitalismo o faz por ser um alienado. Tantas vezes explicamos a esses sujeitos como o sistema capitalista explora e como ele se constitui na origem dos males da sociedade e mostramos como é mais justo a forma de distribuição socialista e estes ainda se mostram indiferentes. Não podemos atribuir este aspecto somente a alienação. Existe a questão do conformismo, indiferença, egoísmo, falta de interesse e descrença em uma possível revolução socialista.

Com isso quero dizer que não é porque uma pessoa é operária que ela possuirá também uma mente revolucionária. De certo que a exploração gera meios de resistência, mas nem sempre toma forma de uma resistência coletiva, social. Nem sempre é uma resistência revolucionária. O operário pode resistir individualmente, tentando encontrar um emprego que lhe pague mais e trabalhe menos, ou até resistir de forma de classe, se organizando para receber um melhor salário, através de greves. Porém, isso não significa que este operário grevista seja necessariamente um revolucionário, pois busca primeiramente interesses econômicos imediatos.

A ideologia burguesa sustenta o capitalismo tanto quanto o Estado. Não adianta derrubar o Estado se a ideologia burguesa não for posta abaixo. Na verdade, torna-se praticamente impossível por abaixo o Estado burguês sem destruir a ideologia burguesa. Esta ideologia que impera na sociedade sustenta o poder burguês, não somente o Estado, mas também todos os níveis desta sociedade. Garante o funcionamento da fábrica, do aparelho militar, das escolas, do judiciário, de todas as outras instituições burguesas onde o poder é exercido.

Assim, a luta pelo socialismo não deve ser dar só no campo político, mas também no ideológico. O objetivo então é conquistar a “Hegemonia”, da qual fala Gramsci. Para a uma hegemonia operária, não basta ter somente o domínio dos meios de produção, mas também o domínio ideológico. A batalha pelo socialismo no século XXI deve ser dar, em grande parte no campo ideológico. É necessária a infiltração da ideologia socialista nas forças armadas, a escola, igrejas, e mídia. A burguesia controla o Estado porque também controla estas instituições. Um sustenta o outro.

É claro que na questão da imprensa se torna mais difícil a infiltração na grande mídia. Por isso a necessidade da criação de jornais e revistas de esquerda, como os jornais Brasil de Fato, Inverta, A nova Democracia e as revistas Caros Amigos, Carta capital, dentre outras.

Um exemplo desse conceito gramsciniano de luta pela hegemonia é a novela que está sendo exibida pelo SBT, Amor e Revolução. Uma novela que fala da luta dos comunistas contra a ditadura militar no Brasil. A novela da uma noção do que é comunismo para o espectador. Propaga assim a luta pelo socialismo no campo ideológico.
Somente desta forma poderemos garantir o triunfo da revolução. Não somente uma busca pela tomada do aparelho de Estado, mas sim pela hegemonia da classe operária. Assim como o poder capitalista é exercido em todos os níveis da sociedade, deve-se também o poder socialista além do Estado. A conquista ideológica é o primeiro passo a ser dado para a revolução socialista.

citação:

* FOCAULT, Michael. Microfísica do Poder. editora Graal: Rio de Janeiro, 2007.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O Maior terrorista: Barack Hussein Obama



Quando anunciada oficialmente a morte de Osama Bin Laden pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, uma multidão de cidadãos americanos saiu às ruas na madrugada do dia 2 de maio. Ainda no fim da noite do dia 1° de maio, boatos rondavam na internet sobre a suposta morte do “terrorista” Osama Bin Laden, o que foi “confirmado” pouco tempo depois por um pronunciamento de Obama. Devido a falta de provas sobre a morte de Osama (já que o corpo, segundo o governo americano, teria sido jogado ao mar, e a decisão de não divulgar fotos do terrorista morto) nos causa uma certa desconfiança a aceitar esta notícia. Porém, como a própria Al Qaeda já escolheu um novo líder (Ayman al-Zawahiri), e até agora sem Osama aparecer por ae em algum vídeo parar negar sua própria morte, acredito sim que ele esteja morto.

A morte de Osama está sendo considerada pelos americanos como um triunfo sobre o terrorismo. Uma luta do Bem (EUA) contra o Mal ( terrorismo islâmico). Porém, o fato é de que a morte de Bin Laden não causará a diminuição do terrorismo pelo mundo. O que sustenta o terrorismo não é a al Qaeda ou qualquer outra organização, mas sim o ódio pelas ações praticadas pelos Estados Unidos. E os americanos sabem realmente insuflar o ódio em diversas nações do mundo, principalmente nas do oriente médio. Perceba que o maior ato terrorista da história da humanidade foi praticada pelos próprios Estados Unidos, quando estes jogaram bombas atômicas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945. As bombas foram jogadas em populações camponesas e trabalhadoras. Em cima de crianças e mulheres e homens inocentes. Jogadas sobre a população civil. Este é só um exemplo maior das ações terroristas praticadas pelos estados unidos em todo o mundo.


Os Estados Unidos insuflam o ódio ao redor do mundo ao invadir países, organizar golpes contra governos democraticamente eleitos, dominar com sua política e economia imperialista a América latina. Ao matarem Osama covardemente, jogando o seu corpo ao mar como um indigente, faz aumentar cada vez mais a reação a eles próprios ao redor do mundo. Os Estados Unidos se acham senhores do mundo, e com certeza isso gera respostas a seus atos, e respostas por muitas vezes violentas. O Terrorismo contra os Estados Unidos só acabará quando este mudar sua política externa. Abandonar as práticas imperialistas e suas próprias práticas terroristas ao redor do mundo.

Porém, de certo que Obama teve um grande lucro pessoal: já garantiu sua reeleição. No mandato de Bush, Osama não era uma figura tão interessante. A família de Bin Laden tinha relações comerciais (ligações estas pessoas, e não políticas) com a família Bush. Isto é melhor explicado por Michael Moore em seu filme de 2004, Fahrenheit – 11 de setembro. A invasão do Afeganistão não tinha como foco a capura de Osama, mas sim a construção de um oleoduto que beneficiaria as empresas americanas. A quem então o governo americano está servindo? a seus cidadãos ou aos interesses privados de alguns empresários?

O que é certo é que a morte de Osama está longe de representar a construção de um mundo sem violência e sem terrorismo. Muito pelo contrário, incita cada vez mais atos de violência e terror pelo mundo. Os Eua criam o terrorismo, Nisso eles são mestres. Não tem como comparar Osama Bin Laden, um mero aprendiz, com Bush ou com Obama. Estes sim, verdadeiros terroristas. A morte de Osama não impedirá mais mortes ao redor do mundo, pois os Estados Unidos estão ainda de pé, matando muitas vidas inocentes em diversos países e gerando ao mesmo tempo uma resposta, também violenta, aos seus atos.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Reflexo sobre a ''democracia'' capitalista

A grande quantidade de informações existentes na globalização e na internet não é um exemplo nem uma adição da democracia. Na verdade, essa abundância de informações tende a degenerar a democracia pelo seguinte raciocínio: Vivemos em uma sociedade de consumidores. Nesta, tende-se a inovar e jogar fora os produtos para manter o consumismo funcionando. Essa prática aplica-se às informações também: Para que ''perder tempo'' com um livro se há um mundo inteiro de informações? Pois então, as pessoas não lêem mais livros pois elas tentam absorver toda a informação disponível através de atalhos (resumos, frases prontas) na tentativa de serem mais flexíveis e conhecerem tudo. Com isso, os livros são substituídos por frases e as discussões são substituídas por imagens. Concluindo: afirmar então que o capitalismo é democrático pois fornece informações de todas as ideologias é uma falácia. Esse fornecimento aliado ao pouco tempo que as pessoas têm para pensar hoje em dia e à própria prática do consumo tende a tornar o pensamento atual mais pobre. Os livros que estão a venda são uma fachada para dizer que a democracia existe, porém, estes nunca serão comprados.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Democracia e Ditadura

II – Democracia e Ditadura no Socialismo




No Manifesto do Partido Comunista, Marx diz: “na sociedade burguesa, o capitalismo é autônomo, enquanto o indivíduo que trabalha não tem autonomia nem personalidade. À supressão dessa relação a burguesia chama supressão da personalidade e da liberdade. E com toda razão! Trata-se, de fato, da supressão da personalidade, da autonomia e da liberdade do burguês.”

O futuro Estado Socialista pretende suprimir a democracia burguesa. Uma democracia de privilégios não se encaixa no conceito de uma democracia para todos. A democracia só será real quando deixar de servir a uma ínfima minoria. A democracia será real quando não existirem mais classes sociais.

A liberdade e democracia para todos serão alcançadas quando o mundo todo chegar ao estágio comunista da revolução. Quando não existirem mais exploradores, ricos e pobres, classes sociais. Quando atingirmos esse estágio, poderemos falar de uma democracia para todos. Porém, para se alcançar o comunismo é necessário passar pela etapa socialista. No socialismo, a ditadura do proletariado é necessária para se romper com a resistência dos capitalistas.

Lênin discute essa questão muito bem, ainda no livro O Estado e a Revolução, quando diz: “A ditadura de uma classe é necessária, não só a toda a sociedade dividida em classes, em geral, não só ao proletariado vitorioso sobre a burguesia, mas ainda em todo o período histórico que separa o capitalismo da sociedade sem classes do comunismo” (Lênin, p.44).

Podemos ver então que a ditadura do proletariado é necessária enquanto não se extinguem as classes sociais. No período de passagem do capitalismo para a sociedade sem classes do comunismo, a ditadura do proletariado é necessária para quebrar a resistência da burguesia.

A ditadura do proletariado é então democrática para o povo e ditatorial para a burguesia, enquanto a democracia burguesa é “democrática” para a burguesia, porém ditatorial para o restante da população. Lênin continua a dizer: “A ditadura do proletariado, período de transição para o comunismo, instituirá pela primeira vez uma democracia para o povo, para a maioria esmagando ao mesmo tempo, impiedosamente, a atividade da minoria, dos exploradores. Só o comunismo está em condições de realizar uma democracia realmente perfeita” (Lênin, p. 111).

Porém, o que fazer para que essa ditadura do proletariado não se torne uma ditadura contra o proletariado? Na Rússia stalinista, a ditadura da classe trabalhadora tornou-se ditadura do partido único contra a toda a sociedade. Na Rússia, quebrou-se sim a resistência da burguesia, porém, também era perseguindo e acusando de contra-revolucionário a todos aqueles que não pensassem igual ao Partido. O socialismo soviético foi construído de forma unilateral e autoritária pelo partido e seus burocratas e não de forma dialética com a participação popular e de outros grupos ou até mesmo partidos de esquerda. Desta forma, os trabalhadores também passaram a ser reprimidos por essa nova ditadura e privados de sua liberdade.

O que fazer para que isso não ocorra novamente? A necessidade de repressão dos trabalhadores se deveu a não-conscientização dos mesmos. Vistos que muitos deles se encontravam alienados do processo político na época capitalista, ainda permaneceram alienados no socialismo. Desta forma, muitos deles poderiam passar para o lado da burguesia, influenciados pelo discurso demagogo e apelativo destes. A burguesia, em seu discurso, diz que na época do capitalismo existia liberdade e que agora o que existe é ditadura. A ditadura destina-se a classe burguesa, mas esta faz parte do povo acreditar que a ditadura é sob toda a sociedade. Desta forma, parte dos trabalhadores passa a apoiar a burguesia, existindo a necessidade então do Estado ampliar a sua ditadura a setores da população.

A única alternativa para que isto não ocorrer é justamente a conscientização dos trabalhadores. Antes de se por fim a ditadura política da burguesia é necessário por fim a ditadura ideológica da burguesia.

Necessitamos então primeiramente de uma revolução ideológica. É necessário que o povo se conscientize, pois caso o contrário, não haverá revolução. E como será essa revolução ideológica? Através das escolas? Também. A escola é uma forma de dominação burguesa, como já foi visto aqui. Por isso torna-se necessário que os marxistas invadam as escolas, principalmente nos ensinos de história, geografia, literatura, ciências sociais e filosofia. O ensino deve passar a favorecer a classe operária, e não a burguesia. Porém, é necessário também a conscientização por outras formas. Discursos públicos, panfletagem, peças teatrais, manifestações, greves, dentre outros. O partido, no qual devem se agrupar os revolucionários tem de realizar tais funções. Atualmente, a maioria dos partidos da esquerda brasileira limita-se a reuniões e congressos no qual participam apenas intelectuais pequeno-burgueses. O linguajar utilizado por esses partidos são por demais teóricos e complicado. Um partido comunista tem de se expandir. Chamar a atenção das classes mais baixas. Recrutar membros nos colégios, faculdades, fábricas, associações de trabalhadores, etc. Abrir sua visão única de mundo, para uma mais diversificada com o objetivo de também atingir setores religiosos.

Em outras palavras, o partido tem de se reformular, abandonar o modelo de socialismo do século XX e abrir-se para uma nova visão de mundo além do bolchevismo. Aplicar a dialética, pensar na aplicação de um socialismo brasileiro. Tem também de se unirem uns aos outros, ultrapassando a velha discussão sem sentido sobre Stalinismo X Trotskysmo. Só com união e reformulação, o movimento comunista brasileiro estará apto a levar adiante o comunismo para a América latina e para o mundo. Caso contrário, o comunismo estará condenado a ser uma lembrança distante na história mundial.

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Está ae galera. Assim eu completo o meu texto com este segundo capítulo. Abraços, feliz natal.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Democracia e Ditadura



I – Democracia e ditadura no capitalismo

Em que reside a democracia no capitalismo? Em democracia para os ricos e para as classes dominantes, em decorrência da ditadura e falta de liberdade para as classes trabalhadoras. A democracia burguesa se baseia na crença de que o multipartidarismo garante a democracia e liberdade para o povo. Porém, quem tem condições de ocupar-se com política? Quem tem tempo de estudar sobre a situação política de seu país? Quem pode receber uma boa educação em um bom colégio para poder entender a situação política, história e econômica de seu país? A burguesia, logicamente. Desta forma, a democracia na sociedade capitalista destina-se unicamente para a burguesia.

Lênin, revolucionário russo e estadista soviético, discute essa questão em seu livro O Estado e a Revolução quando diz: “os escravos assalariados de hoje, em conseqüência da exploração capitalista, vivem por tal forma acabrunhados pelas necessidades e pela miséria, que nem tempo têm para se ocuparem de ‘democracia’ ou de ‘política’, no curso normal e pacífico das coisas, a maioria da população se encontra afastada da vida política e social” (Lênin, p. 107).

Assim, vemos que no capitalismo existe democracia para a burguesia, porém, ditadura para o restante da sociedade. Esta ditadura burguesa não se da somente no campo político. Está presente também no campo ideológico. Na verdade, a ditadura política submete-se a ditadura ideológica.

A ditadura burguesa ideológica começa logo na infância. As escolas são na verdade campos de doutrinação burguesa com um ensino monótono, autoritário, positivista, acrítico, factual e desprovido de lógica. Quando você passa a acreditar que a educação burguesa é a única e imutável forma de ensino, você passa a ter repulsa a qualquer tipo de educação e leitura. A educação extremamente chata aplicada nos colégios de forma autoritária tem como objetivo desestimulá-lo a ler, a pensar e a questionar.

É dito nos colégios: “você tem de estudar para passar no vestibular”. Porém, não nos ensinam a questionar o porquê de não haver educação gratuita ao alcance de todos. É dito: “você tem de votar em bons candidatos, não pode ser um alienado político”. Porém, não ensinam nas escolas o que faz um deputado ou para que serve um senador. Não ensinam política.

Assim, você começa a achar que se não passou no vestibular a culpa é inteiramente sua, somente sua. Acha que se a política não está boa é simplesmente porque você não votou em bons candidatos. A imagem que você recebe é de que não há nada de errado com a sociedade ou com o sistema, mas sim com você mesmo. Se você é pobre, é porque você não se esforçou o suficiente. Se você persistir, você poderá ser rico como o cidadão modelo.

Desta forma, a escola cumpre o seu dever de levar o ser humano a se subordinar ao sistema capitalista. O que se ensina é se integrar ao sistema, e não mudar o sistema. Porém, a verdade é que a culpa de todos os nossos males e da sociedade é justamente este mesmo sistema capitalista ao qual todos buscam se integrarem.

A ditadura ideológica continua em outros aspectos culturais da sociedade para que você perceba o capitalismo como um modelo único para a sociedade. Para que você ache que o capitalismo é eterno e que nunca poderá ser alterado. Para que você acredite que a sociedade sempre foi assim e sempre será. Que sempre existiram ricos e pobres, violência, corrupção, guerras e que nada poderá alterar a ordem das coisas.

Utilizaremos aqui o exemplo de filmes e programas de TV para explicar como funciona melhor essa dominação ideológica. Nos filmes futurísticos sempre nos passam a imagem de uma sociedade desenvolvida tecnologicamente e com grandes instrumentos modernos. Porém, o que não se alteram nesses filmes ou programas são as relações sociais. Nesses filmes, ainda existem ricos e pobres, ainda existem relações comerciais, ainda está presente a exploração e a pobreza. Vemos isso melhor em filmes futuristas como Minority Report - A Nova Lei, De Volta Para o Futuro, O Homem Bicentenário, Eu Robô, Futurama, dentre outros.

E não só filmes futurísticos, mas também outros como Flinstons, Família Dinossauro, Guerra nas Estrela. Tais filmes tem como objetivo nos convencer de que desde os primórdios da humanidade, e em qualquer lugar do universo, o modelo de realidade existente é o capitalismo e que ele nunca será alterado.

A ditadura ideológica está presente também nas propagandas que nos convence de que você só é alguém se consumir. Assim, toda a sua vida é dedicada ao consumo. O modelo de felicidade estabelecido no capitalismo é do ser bem sucedido economicamente. Ganhar na loteria também vale como modelo de felicidade. O empresário bem sucedido, eis o modelo a seguir.

Para tal, você terá de trabalhar. A sua vida passa a girar então em torno do trabalho. Você vive para trabalhar e não pensa no valor social de seu trabalho e em que isso vai ajudar ao próximo. Pensa-se sim na gratificação financeira. O capitalismo doutrinando então a colocar o “eu” em primeiro lugar gera o individualismo. Pense somente em si. Que o outro “se vire”, como você também está “se virando”.

Pensando somente no “eu”, faço uma pergunta: “porque pensar em política?” A política é um órgão social que tem por objetivo regular os interesses da sociedade como um todo. Porém, como a ditadura ideológica do capitalismo ensinou a pensar somente em si, a política não desperta muito interesse, visto que é um órgão coletivo. É neste sentido que a ditadura política está subordinada a ideológica.

A participação popular na dita “democracia” está restringida ao voto. Mas esta própria participação limitada pelos trabalhadores na política tem de ser estritamente controlada e manipulada.

Segundo Paul Valéry, filósofo e poeta francês, “a política foi, inicialmente a arte de impedir as pessoas de se ocuparem do que lhes diz respeito. Posteriormente, passou a ser a arte de compelir as pessoas a decidirem sobre aquilo de que nada entendem.”

Se uma pessoa não sabe o que faz um deputado federal, como ela pode ter discernimento para eleger um? Se não entende a diferenciação entre partidos de esquerda e de direita, como poderá ter coerência no voto? Assim, o ano de eleição é marcado pelo grande esforço das classes dominantes de alienar o eleitor do processo eleitoral.

Os debates entre os candidatos ocorrem sempre tarde da noite e bem próximo ao dia da votação. Os debates são compostos por falatórios sem sentido e acusações mútuas. Os poucos eleitores que assistem não compreendem o que está sendo dito, votando então no que usou de mais demagogia e fez mais promessas.
Não se têm vez no processo eleitoral os partidos verdadeiramente de esquerda. Estes são isolados da disputa nas eleições. Não tem espaço para os candidatos que querem verdadeiramente alterar o sistema capitalista, este que é a causa verdadeira dos nossos males. Assim, quando a mesma corja de políticos de sempre chega ao poder, a mídia torna a colocar a culpa no povo, dizendo que a política está assim porque o povo não soube votar.

O povo então acha que nenhuma mudança é possível vinda de si mesmo. Passa a depender inteiramente de seu líder. Acha que a “democracia” limita-se as urnas. Assim, o trabalhador alheia-se por completo da política brasileira, fincando esta a cargo dos grandes burgueses. Esta é a ditadura política burguesa. Os trabalhadores não têm participação nela. Porém, a burguesia chama de democracia justamente porque é uma democracia para a eles. Democracia para os burgueses votarem e serem votados, liberdade para explorar, liberdade para manipular. Liberdade para lucrar. Está é a liberdade da burguesia.

O cientista político brasileiro Francisco Weffort diz em seu livro O Populismo Na Política Brasileira: “A massa volta-se para o Estado a espera dele ‘o sol ou a chuva’, ou seja, entrega-se de mãos atadas aos interesses dominantes”. Ao depositar o seu voto nos burgueses que dominam a cena política de nosso país, o proletariado resolve se entregar totalmente à mercê da classe dominante.

No Brasil, os dois candidatos da situação nas eleições presidenciais de 2010 eram Dilma (PT) e Serra (PSDB). Nenhum dos dois candidatos apresentaram em seus programas sinais de que quando chegassem ao poder, iriam romper com o sistema neoliberal estabelecido. Buscavam simplesmente dar continuidade ao sistema, “melhorar o sistema”. Mas como já foi dito aqui, é o próprio sistema capitalista a origem dos males. Tem de se destruir o sistema para que a condição de vida da população melhore. Mas isto não é dito para o trabalhador, e nem discutido nos debates.

A mídia, antes mesmo de quaisquer notícias mais esclarecedoras sobre as eleições, já mostrava em suas pesquisas eleitoreiras e manipuladas que Dilma e Serra estavam na frente e que votar em qualquer outro era perda de tempo, pois só Dilma ou Serra tinham possibilidade de vitória. Desta forma, já excluíam qualquer outro do sistema eleitoral. Desta forma, a burguesia conseguiu colocar na disputa dois candidatos que representariam somente ela mesmo.

Para a direita esclarecida, o governo lulista foi muito bom, colocando os pobres em seu devido lugar, na fila para esmolas, que para os pobres se chamava Bolsa-Família. Para os mais reacionários, o governo do PT ainda é visto como desconfiança preferindo-se votar no Serra. Mas até a direita mais esclarecida atiça a disputa PT X PSDB, fazendo os trabalhadores acreditarem que é uma questão de vida ou morte votarem em Dilma, sendo que tanto um quanto o outro estão a serviço da burguesia.

Com acusações diretas da burguesia a Lula e ao PT, muitos se posicionaram a favor de Dilma, achando que esta estaria a favor do povo. Porém, tanto Dilma quanto Serra são bonecos controlados pela grande burguesia. A classe que detinha o poder no governo Fernando Henrique eram a burguesia e os latifundiários. Oito anos após o início do governo Lula, a mesma classe contínua do poder. Assim, aqueles que votaram na candidata de Lula, apoiaram a continuidade desta classe no poder, o tratamento de pobres como mendigos a espera de esmolas, a repressão e a não efetivação da reforma agrária. Entregaram toda a sua autonomia ao Estado e a burguesia.

Sobre isso, cabe-nos colocar aqui trechos da obra de Bakunin chamada A Ilusão do Sufrágio Universal. Segundo Bakunin, “o povo não tem tempo livre ou educação necessária para se ocupar de governo. Já que a burguesia tem ambos, ela tem de ato, se não por direito, privilégio exclusivo. É verdade que, em dia de eleição, mesmo a burguesia mais orgulhosa se tiver ambição política deve curvar-se diante de sua Majestade, a Soberania Popular. Mas, terminada a eleição, o povo volta ao trabalho, e a burguesia, a seus lucrativos negócios e às intrigas políticas. Não se encontram e não se reconhecem mais. Como se pode esperar que o povo oprimido pelo trabalho e ignorante da maioria dos problemas, supervisione as ações de seus representantes?”.

Vendo que existe um obstáculo enorme entre os políticos e o povo, como esperar que estes representem a classe trabalhadora? Os políticos dominam o poder de Estado justamente para poder oprimirem os pobres e cuidarem de seus próprios negócios. Desta forma, passaremos a discutir no próximo capítulo, porque a democracia só poderá ser verdadeira no socialismo e qual o papel da ditadura no socialismo.

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P.S. Olá amigos. Esse é o primeiro capítulo de um texto que eu escrevi sobre Democracia e Ditadura. no primeiro capítulo eu tratei de discutir ditadura e democracia no sistema capitalista. no segundo discuto sobre democracia e ditadura no socialismo. O segundo capítulo é menor do que esse último que acabei de postar no blog. não coloquei tudo junto se não iria ficar muito grande. Espero que gostem do texto e leiam até o final. Voltem depois para ler o segundo capítulo. E só uma coisa: comentem nos posts. Isso ajuda aos editores do blog a ver que tem gente interessada nos textos e ver a opinião de cada um sobre o assunto. Nos incentiva também a manter o blog vivo.

Sobre o Aniversário de Stálin que foi hoje/ontem (21 de dezembro), acho que não merece nada de especial aqui no blog. Stálin deturpou o socialismo, e hoje em dia ele tem o nome manchado por causa dele. Então, prefiro postar esse texto do que algo sobre stálin. Abraços camaradas, e bom natal.