sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A Utopia Capitalista e o Fim da Pobreza



autoria: rafael Benedito de souza

Por vezes pergunto-me o motivo de muitas pessoas chamarem o comunismo de utopia. Será talvez por essas pensarem que a sociedade atual nunca mudará? Será tal sociedade um modelo absoluto, instituída por forças sobrenaturais acima dos homens? A resposta é não, e vou explicar o porquê.

Um exemplo de algo que nunca mudará é a gravidade. Foi instituída pela natureza e não por mãos humanas. Então seria louco, utópico, querer mudar uma lei natural, que existia antes da humanidade. Igualmente utópico seria querer mudar qualquer lei da natureza, pois não foram instituídas por nós.

E o que seria o capitalismo? Algo imutável como uma lei natural? Ou um sistema criado por mãos humanas, sujeito à transformações? Obviamente, a segunda resposta. E nada que foi construído por homens é indestrutível, desde objetos como cadeiras, mesas, cadernos, que podem ser destruídos, como próprios sistemas, sejam políticos ou econômicos. Vou tomar como exemplo qualquer lei do sistema legislativo. Uma lei que vale aqui no Brasil, pode não valer de nada em um país vizinho. E uma lei que hoje é dada como certa, amanhã pode perder sua validade.

Também tomo como exemplo outros sistemas existentes na história da humanidade. Vejamos a monarquia. Durante quase toda a Idade Média e a Idade Moderna, foi quase que incontestável a idéia de um rei. Naquela época, tal sistema parecia absoluto e certo. Parecia que tal sistema duraria para sempre. Mas, chegada uma hora, o sistema mudou e agora poucos questionam como verdadeiro e certo o sistema republicano. Outro exemplo a ser tomado é o escravismo. Os escravos, em sua maioria, não pensavam em uma sociedade sem escravos. Na verdade, estes, quando podiam, buscavam a sua alcançar sua liberdade e, depois de livres, buscavam enriquecer e adquirir escravos. Isso porque sua mentalidade estava tão acostumada com o escravismo que, para ele, tal sistema não mudaria. Na verdade, nem pensava nessa possibilidade, tomando o sistema escravista como imutável. Porém, tanto a monarquia quanto o escravismo acabaram, dando lugar a novos tipos de sistemas.

A história e os sistemas criados por mãos humanas sempre mudaram, por mais absolutos e incontestáveis que parecessem. Utópico seria então achar que o capitalismo é um sistema absoluto e que sobreviverá para sempre, pois na História, tudo esteve em mudança.
Agora vamos analisar brevemente o que é o capitalismo. Seria um sistema econômico? Sim. E o que seria a economia? A economia, ao contrário do que muitos pensam, não é algo difícil de se entender. Economia é meramente a forma de como os bens materiais são produzidos e distribuídos. E para distribuí-los você tem duas formas: Ou você deixa cada um buscar o maior número de bens materiais para si mesmo, ou os distribui igualmente, conforme a necessidade de cada um. O problema do método do “cada um por si” seria que assim poucos ficariam com muito e muitos com pouco. Alguns não ficariam nem com o que é necessário para a sobrevivência. Assim, os bens materiais acabam se tornando mais importantes do que vidas humanas.

Já o segundo modelo, no qual os bens materiais são distribuídos igualmente, parece ser o modo mais racional e humano. O PIB per capita do Brasil está em cerca de 7, 8 mil dólares. Imagine cada cidadão brasileiro ganhando cerca de 7 mil e 800 reais por mês. Não existiria mais pobreza no Brasil se realmente o PIB fosse distribuído igualmente a cada cidadão brasileiro e do mundo. Mas isso ocorre meramente por causa do Capital, pois para que as camadas dominantes continuem no poder, é necessário que o povo seja sempre pobre.

Vemos assim que o motivo da existência da pobreza no mundo é o capitalismo. Portanto, não adianta ficar mandando dinheiro para a África, bolsa ajuda para os pobres, isso ou aquilo. Nada mudará enquanto tal sistema desigual não vier a baixo. O capitalismo gera desemprego, a pobreza, a desigualdade, a exploração e a violência. Nós, moradores do Rio de Janeiro e do restante do Brasil, tememos a cada dia a violência urbana. E essa violência tem um motivo: O individualismo. Para o capitalismo sobreviver, tal individualismo tem de estar vivo na mente do povo. A educação no sistema capitalista só tem um objetivo: criar uma massa de trabalhadores. E para os estudantes, o único objetivo de se estar estudando é conseguir um diploma para poder ingressar no mercado de trabalho para poder comprar aquilo que a sociedade capitalista oferece, através das propagandas como carro, roupas, e outros. Os próprios professores dizem para os alunos que é para eles estudarem, se não, não irão conseguir um bom emprego. Ou seja, a educação toma um valor totalmente individualista e mercadológica.

O desenvolvimento da mentalidade individualista, despertada pelo capitalismo, se torna um perigo, pois o objetivo da vida acaba se tornando meramente a obtenção de bens materiais e prazeres individuais. Assim, as pessoas podem acabar se utilizando de outras formas para obterem esses bens, sem ser preciso ir à escola ou trabalhar. Se o que importa é somente o “eu”, então não existirá problema em roubar e matar. Um exemplo: se não é oferecido a um morador de uma comunidade carente a possibilidade de adquirir os bens materiais mostrados pela sociedade capitalista e que, segundo ela, é o que dá valor a uma pessoa, existe uma possibilidade desse morador se valer de outros meios para obter tais bens, como o roubo, venda de drogas, prostituição, etc. Assim, a classe burguesa dá origem aos traficantes e a outros tipos de bandidos.
Eu já ouvi dizer que os traficantes e outros bandidos formam uma espécie de resistência ao sistema. Esta afirmação está totalmente errada, pois esses traficantes e outros bandidos não buscam a destruição do sistema capitalista, mas sim a sua integração em tal sistema. Eles vendem drogas, roubam, matam e se prostituem, justamente para comprar e consumir aquilo que a sociedade capitalista oferece em suas propagandas de TV. Assim, são tão consumistas e alienados como qualquer outra pessoa dentro do sistema capitalista.

Agora falemos um pouco sobre a utopia capitalista. O que seria isso? Segundo o dicionário Aurélio, utopia é um “projeto irrealizável”. O que seria um projeto irrealizável dentro do capitalismo? Seria um bom sistema educacional, um bom sistema político, uma melhor condição de vida dentro do capitalismo. É sonhar com um mundo melhor sem desejar a queda do capital.
Como já foi dito, a escola dentro do sistema capitalista só tem um objetivo, criar uma massa trabalhadora. Sendo assim, não é conveniente para as classes dominantes que se crie um saber crítico e questionador nos alunos. O mercado de trabalho é o ponto de chegada da educação. Assim, inevitavelmente dentro do sistema capitalista, ela se torna algo chato e monótono, pois se limita meramente a reprodução de saberes.

O sistema político em si já está corrompido, pois ele atua em favor das empresas e não do povo. Ele também absorveu muito do individualismo e muitos candidatos só estão na política para buscarem o melhor para si, e não para o povo. Este é o motivo de tantos roubos e corrupção dentro da política. Não é a política, portanto, que precisa mudar, mas sim o sistema econômico.

Outra causa que não adianta lutar isoladamente é contra a destruição das florestas. As empresas se preocupam meramente com o seu lucro e não com a humanidade ou com o meio ambiente. Para elas não falirem, é necessário a emissão de gases poluentes no ar, lixo tóxico na terra e na água, e a destruição de florestas, modificando assim o clima do planeta. Isso não vai parar por mera bondade dos empresários. Só mudará quando também mudar a forma dos meios de produção e a distribuição de renda.

A guerra é outro fator do capitalismo. Hoje, a lógica para se fazer guerras é o domínio de áreas petrolíferas, domínio de novos mercados, áreas de influência, etc. Ou seja, matar pessoas apenas para a obtenção de bens materiais. Não adianta apenas gritar por paz, temos que cortar as origens da guerra, para que nunca mais volte a acontecer. É necessário se cortar o mal pela raiz.

Sendo assim, pelo que lutaremos? Por uma política mais justa? Por mais empregos? Pelo fim da violência? Pelo fim das guerras? Nada disso ocorrerá se não atacarmos o que gera tudo isso: O individualismo capitalista.

Vocês podem dizer: “Isso é apologia ao comunismo.” Quer saber se eu estou fazendo apologia a um sistema que visa a igualdade social, a erradicação da pobreza, a educação verdadeira e melhores condições de vida? Sim, eu apoio tal sistema e continuarei apoiando, pois para uma pessoa se colocar a favor do capitalismo, ou essa pessoa tem de ter muito ódio no coração ou ser muito ignorante.

Rafael Benedito de Souza, 24 de setembro de 2009.