Não existe um meio de
se instalar o socialismo em uma sociedade a não ser através da revolução. Toda
transição que se leva a instauração do socialismo é uma revolução. Seja ela por
vias pacíficas e/ ou eleitorais¹,
por revoluções armadas como na Rússia em 1917, por guerrilhas rurais como em Cuba
ou guerras de libertação nacional, como em países da África na segunda metade
do século XX que instarou o socialismo em países como Angola e Moçambique.
Porém, quais seriam as condições que levam a uma revolução? São necessárias as causas
materiais, as causas objetivas como diz Marx? Sim, obviamente. As causas
objetivas estão ligadas ao desenvolvimento do capitalismo, instalações de
fábricas, a burguesia organizada. E as condições Subjetivas ligadas ao ideal.
Ou seja, a consciência de classes. As condições objetivas como a
industrialização de uma nação por exemplo, dão origem as condições subjetivas
que seria a conscientização dos trabalhadores e, a partir dai, sua organização
como classe.
Quero aqui justamente
tratar da questão que tomo como a mais fundamental para uma revolução
socialista, a organização do proletariado em classe, a conscientização das
massas. Eis o fator que considero mais importante para uma revolução
socialista. Hoje, ao redor de todo o mundo não há lugar onde o capitalismo não
tenha estendido suas garras. Se na época de Marx ele tinha o enorme cuidado em
afirmar que a revolução se daria em um país capitalista desenvolvido, hoje
podemos esperar de qualquer lugar do mundo um levante revolucionário. Se
determinados países apresentam ainda uma base mais voltado para as relações
agrícolas do que industriais, essas relações agrícolas com certeza são
comerciais. O campesinato é também uma vítima do capitalismo e oprimido por
ele.
Apesar desse desenvolvimento
das causas objetivas, não vemos grandes revoluções ocorrerem. E qual seria a
causa? Para esclarecer usarei o exemplo da Rússia. Em 1917, países como França,
Inglaterra e Alemanha o capitalismo era bem mais desenvolvido nesses países, ao
contrário da Rússia, que ainda não tinha se libertado totalmente dos resquícios
do feudalismo. A servidão camponesa na Rússia só fora abolida em 1861. O
Czarismo ainda era a forma de governo e a Duma (espécie de conselho com
deputados eleitos) funcionam meramente como um órgão consultivo sem terem de
fato algum poder. 80% da população era composta por camponeses. Como poderia o
socialismo surgir primeiramente naquele país que Marx sempre deu pouca atenção
em sua obra?
Em seu texto, A Revolução Contra O Capital, Gramsci
diz que a Revolução Russa foi feita mais de ideias do que de fatos. Para
Gramsci, a Revolução Russa era a revolução contra O Capital de Marx. A Revolução contrariava a análise positivista
feita por muitos dessa obra, que achavam que a transição para o socialismo
tinha de ser feito através de ciclos, ou seja, primeiro o desenvolvimento do
capitalismo plenamente, depois a organização dos operários, conscientização das
massas e dessa forma a revolução socialista. A Revolução na Rússia se deu não
pelo desenvolvimento do capitalismo, mas sim pela organização dos trabalhores.
A industrialização na Rússia se deu de cima, pelo próprio governo Czarista. A
burguesia era fraca na Rússia, ela ainda aspirava a tomada do poder.
Essa industrialização
vinda de cima, concentrada principalmente em São Petersburgo e em Moscou formou
um operariado organizado e combativo. As ideias socialistas vindas do ocidente
se misturaram com a oposição ao czarismo de teóricos russos como Bakunin e
Herzen. A guerra mundial fora desastrosa para a Rússia. O exército russo era
composto principalmente por camponeses sem vestimenta, alimentação ou
armamentos adequados. Em 1917, Em São Petersburgo não havia suprimentos para a
população, a crise tornou-se insuportável. Os operários saíram em marcha, os
Sovietes (comitês de organização operárias surgidas em 1905) voltaram a surgir.
Os Sovietes representavam a forma de organização operária mais combativas e
politizadas da história. Participaram ativamente das revoluções russas. Em
Fevereiro de 1917 o Czarismo deixara de existir na Rússia.
O governo “democrático”
da Duma que vinha a se encaixar num modelo político basicamente parlamentar não
fora capaz de atender as demandas da população. A guerra continuava enquanto a
população na Rússia continuava a sofrer. Os Bolcheviques liderados por Lênin
fizeram a revolução de outubro (novembro pelo nosso calendário), dando origem
assim a primeira revolução socialista da história.
Um país atrasado como a
Rússia surgiu a revolução. Nas palavras de Gramsci: “Foram revolucionários que criaram
as condições necessárias para a realização completa e plena do seu
ideal. Criaram-nas em menos tempo de que o teria feito
o capitalismo”. Vemos então que apesar das condições materiais da Rússia não
estarem completamente formadas, os próprios revolucionários criaram essas
condições. A ideologia foi mais forte do que qualquer limitação teórica e
material. Lênin soube perceber a oportunidade história única que se apresentou,
e tomou um passo que mudou a humanidade para sempre.
Desta forma quero dizer
que não adianta as condições objetivas estarem formuladas com o pleno
desenvolvimento da economia capitalista, se o trabalhador não for conscientizado.
E por trabalhador não me refiro somente ao operariado fabril, mas sim a todos
os ramos do trabalho que são alienados pelo capitalismo. A crise econômica de
2008 que até agora mostra seu efeito, principalmente em países como Grécia,
Alemanha, Portugal e Espanha não deram início por si sós a revolução
socialista. A revolução é feita por pessoas e não pelo próprio sistema. Não
basta esperar de braços cruzados uma situação propícia, como se a massa fosse
se revoltar devido a uma grande crise e automaticamente lutar por uma
revolução.
Na verdade, grandes
crises e problemas na sociedade por vezes fazem elas aderirem ao fascismo, como
no caso da Alemanha e Itália. O Fascismo sempre se apresenta como uma solução
mais rápida e de maior compreensão. Para a sociedade não cair no fascismo em
momentos de crise, a conscientização das massas deve ser feita a todo o tempo. Para
a revolução ser vitoriosa, o fator mais importante é o trabalhador
conscientizado, combativo. É dele que Marx se refere como o coveiro do
capitalismo. Este foi um fator que Lênin soube perceber e usar muito bem no
caso da Revolução Russa.
Bibliografia: GRAMSCI, Antonio. A Revolução Contra O Capital. In: http://marxists.org/portugues/gramsci/1917/04/24.htm
Bibliografia: GRAMSCI, Antonio. A Revolução Contra O Capital. In: http://marxists.org/portugues/gramsci/1917/04/24.htm
Companheiros, achei interessante o assunto do debate, e em linhas gerais gostaria de deixar aqui minha concordância. Somente as classes dominadas, a massa oprimida e explorada, sob a posição da classe proletária, que se dá pelo partido revolucionário, pode levar a cabo a revolução. Mas não posso deixar de tocar em alguns assuntos inquietantes. Os exemplos citados logo no início, sobre revoluções pacíficas/eleitorais, juntamente com a possibilidade de sua ocorrência, são prejudiciais a formação da posição revolucionária, pois no caso do Chile, por um despreparo da resistência armada, graças aos grandes setores do partido, e em concordância com as políticas dirigidas pela URSS, diante da falsa possibilidade de revoluções por vias democráticas (burguesas), poucos setores puderam oferecer resistência a contra-revolução quando a burguesia a levou aos seus últimos termos. A história, que é a história da luta de classes, nunca é tão simples, mas podemos extrair essa lição, superficialmente. E na Venezuela não está acontecendo uma revolução, talvez tenha que se levar em conta as janelas abertas a uma democracia burguesa mais ampla, a melhor distribuição de renda, a estatização de setores da economia, porém, tudo isso são medidas perfeitamente encaixadas na manutenção do capitalismo. O que vemos é um governo anti-neoliberalismo, mas ainda não socialista. Que não corta, por exemplo, suas relações comerciais com os EUA, apesar de todas as críticas, e com uma vantagem em relação aos outros países da América Latina, o petróleo. Há questões também de ajuda a organismos como as FARC,o que seria bom para ajudar a luta por essas bandas, mas falar em revolução por vias eleitorais na Venezuela é, no momento, não compreender a realidade lá presente. Estão os "que fazem a revolução" a fazer isso lá mesmo, como é o objetivo do texto em explicitar? Tem que se pensar. O Estado Operário só é construído na luta de classes, à medida que a unidade da classe operária se estabelece, mas isso não acontece de maneira apenas ideológica, mas como fruto da prática revolucionária! Do controle (pelas organizações da massa revolucionária) da produção, do escoamento, da resistência, da participação política e todos os lugares onde o poder ainda é do Estado Burguês! Em algum momento do texto vocês citam que os sovietes voltaram a existir em 1917, mas na verdade essa forma de organização, que não foi criada por nenhum partido, e sim pelos trabalhadores no processo de sua luta, nunca deixou de existir na prática desses trabalhadores, foi a forma que possibilitou a organização dos trabalhadores, a unidade operário-camponesa, a organização da revolução e a sua consolidação. Lenin nas suas "Cartas de longe" fala o quanto seria impossível ter tomado o poder em 1917 sem o aprendizado das massas e com as massas em 1905. As próprias classes dominadas chegaram a uma forma de organização e unidade (sovietes) que se tornaria revolucionária com a posição bolchevique, que não foi imposta por decreto, mas ganhou das outras posições na luta de classes, na organização das massas. Para concluir gostaria de acrescentar aos companheiros a indicação de leitura do último prefácio escrito por Marx, em parceira com Engels, ao "Manifesto do PARTIDO Comunista" (nunca esqueçam o Partido), que data de 1882. (Continua)
ResponderExcluir(Continuação) Marx, durante o início da fundação do Marxismo (Materialismo Histórico), sempre defendeu que a Inglaterra era o país onde primeiro se daria a revolução, por ser o país onde o capitalismo estava mais avançado. Mas, essa posição não é mais vista em Marx, quando se aprofunda na construção da Ciência da História, na construção do livro que tomaria grande parte dos seus últimos 15 ou 20 anos, "O Capital". Pelo fato de que no'O Capital há enormes avanços na compreensão científica das formações sociais capitalistas. Um claro amadurecimento materialista da teoria marxista. O que possibilitaria a Marx dizer nesse prefácio de 1882, após ter escrito tudo que viria a ser "O Capital", que a Rússia estava na vanguarda do movimento revolucionário da Europa, e que se a revolução dá sinal de uma revolução proletária, temos que levar a cabo isso! Que ninguém queira colocar Marx como profeta, pois ele não fez mais do que analisar a luta de classes, a realidade, e retirar daí algumas conclusões. Mas o mais importante é Marx ser claro e objetivo quanto a questão "mística" e determinista dedicada a ele com relação às necessárias etapas que as sociedades deveriam passar, a saber, modos de produção antigo->feudal/asiático->capitalismo para então poder passar ao socialismo e posteriormente o comunismo. Cartilha que deu, e dá, muito asilo a posições burguesas dentro de partidos nomeados comunistas, para partilharem do desejo do desenvolvimento (capitalista) nacional para se poder chegar a uma situação revolucionária, o que não passa de traidores, vermes sangue-sugas do povo e do trabalhador, tanto quanto os porcos capitalistas. Então, acho que concordando com Gramsci, a revolução soviética foi feita por revolucionários, óbvio, não haveriam de ser burgueses contra-revolucionários à fazê-la. Avançando um pouco, não foram os dirigentes revolucionários que criaram as condições para a revolução, eles tiveram também a sua importância vital, mas dizer que as condições materiais para a revolução não tinham sido criadas é falso, é desconhecer a realidade que Lenin tanto analisou e participou. é desconhecer a história dos Bolcheviques. Rosa Luxemburgo diz que "quem espera as condições objetivas para a revolução esperará para sempre", e é mentira! Lenin é claro e materialista em seus documentos e ações! As condições objetivas para a revolução existiam, estavam criadas! Não somente pelo partido, mas principalmente pelo aprendizado revolucionário das massas, pela construção do poder dos sovietes, pelo povo aramado e organizado. A decisão de começar a revolução não foi aguardada pelo povo, ela foi instaurada pelo povo e consolidada por Lenin, pelos bolcheviques. Acabei me alongando muito, mas isso é normal quando se trata de assuntos tão importantes companheiros. Espero ter colados questões que contribuam com a teoria revolucionária, pois, como Lenin disse, "Sem teoria revolucionária, não há partido revolucionário". Abçs.
ResponderExcluirOlá Camarada. Bem, primeiramente desconheço esse prefácio de 1882 do manifesto comunista. E em relação ao Capital, creio que Marx possa ter dado mais atenção a Rússia no segundo volume. Mas a verdade é que em sua obra Marx sempre falou da necessidade da burguesia tomar o poder para depois o proletariado tomar. Isso está presente em Lutas de Classes na França e no 18 Brumário de Luís Bonaparte, onde ele explica que neste caso o proletariado ainda não tinha conseguido chegar ao poder pq as condições materiais ainda ñao estavam concluídas. A possibilidade de se pular uma etapa na Rússia foi discutida por Lênin. Lá não era a burguesia quem estava no poder, mas sim o Czarismo. Isso se mostra verídico ao saber que quem industrializou realmente o país foi Stálin, e não a burguesia. E sim, confesso que o Soviete era um orgão independente de qualquer partido, até porque após a revolução de fevereiro de 1905 ele governada juntamente com a Duma. O governo então era dividido entre a Duma e o Soviete de operários. Porém, coube a Lênin a decisão de tomar o poder imediatamente. Tal proposta foi apresentada nas Teses de Abril.
ResponderExcluirporque as pessoas fazem revoluçao
ResponderExcluir?