domingo, 28 de outubro de 2012

Quem (ou o que) Faz a Revolução?


    
     Não existe um meio de se instalar o socialismo em uma sociedade a não ser através da revolução. Toda transição que se leva a instauração do socialismo é uma revolução. Seja ela por vias pacíficas e/ ou eleitorais¹, por revoluções armadas como na Rússia em 1917, por guerrilhas rurais como em Cuba ou guerras de libertação nacional, como em países da África na segunda metade do século XX que instarou o socialismo em países como Angola e Moçambique. Porém, quais seriam as condições que levam a uma revolução? São necessárias as causas materiais, as causas objetivas como diz Marx? Sim, obviamente. As causas objetivas estão ligadas ao desenvolvimento do capitalismo, instalações de fábricas, a burguesia organizada. E as condições Subjetivas ligadas ao ideal. Ou seja, a consciência de classes. As condições objetivas como a industrialização de uma nação por exemplo, dão origem as condições subjetivas que seria a conscientização dos trabalhadores e, a partir dai, sua organização como classe.  

     Quero aqui justamente tratar da questão que tomo como a mais fundamental para uma revolução socialista, a organização do proletariado em classe, a conscientização das massas. Eis o fator que considero mais importante para uma revolução socialista. Hoje, ao redor de todo o mundo não há lugar onde o capitalismo não tenha estendido suas garras. Se na época de Marx ele tinha o enorme cuidado em afirmar que a revolução se daria em um país capitalista desenvolvido, hoje podemos esperar de qualquer lugar do mundo um levante revolucionário. Se determinados países apresentam ainda uma base mais voltado para as relações agrícolas do que industriais, essas relações agrícolas com certeza são comerciais. O campesinato é também uma vítima do capitalismo e oprimido por ele.

     Apesar desse desenvolvimento das causas objetivas, não vemos grandes revoluções ocorrerem. E qual seria a causa? Para esclarecer usarei o exemplo da Rússia. Em 1917, países como França, Inglaterra e Alemanha o capitalismo era bem mais desenvolvido nesses países, ao contrário da Rússia, que ainda não tinha se libertado totalmente dos resquícios do feudalismo. A servidão camponesa na Rússia só fora abolida em 1861. O Czarismo ainda era a forma de governo e a Duma (espécie de conselho com deputados eleitos) funcionam meramente como um órgão consultivo sem terem de fato algum poder. 80% da população era composta por camponeses. Como poderia o socialismo surgir primeiramente naquele país que Marx sempre deu pouca atenção em sua obra?
 
 

     Em seu texto, A Revolução Contra O Capital, Gramsci diz que a Revolução Russa foi feita mais de ideias do que de fatos. Para Gramsci, a Revolução Russa era a revolução contra O Capital de Marx. A Revolução contrariava a análise positivista feita por muitos dessa obra, que achavam que a transição para o socialismo tinha de ser feito através de ciclos, ou seja, primeiro o desenvolvimento do capitalismo plenamente, depois a organização dos operários, conscientização das massas e dessa forma a revolução socialista. A Revolução na Rússia se deu não pelo desenvolvimento do capitalismo, mas sim pela organização dos trabalhores. A industrialização na Rússia se deu de cima, pelo próprio governo Czarista. A burguesia era fraca na Rússia, ela ainda aspirava a tomada do poder.

     Essa industrialização vinda de cima, concentrada principalmente em São Petersburgo e em Moscou formou um operariado organizado e combativo. As ideias socialistas vindas do ocidente se misturaram com a oposição ao czarismo de teóricos russos como Bakunin e Herzen. A guerra mundial fora desastrosa para a Rússia. O exército russo era composto principalmente por camponeses sem vestimenta, alimentação ou armamentos adequados. Em 1917, Em São Petersburgo não havia suprimentos para a população, a crise tornou-se insuportável. Os operários saíram em marcha, os Sovietes (comitês de organização operárias surgidas em 1905) voltaram a surgir. Os Sovietes representavam a forma de organização operária mais combativas e politizadas da história. Participaram ativamente das revoluções russas. Em Fevereiro de 1917 o Czarismo deixara de existir na Rússia.

     O governo “democrático” da Duma que vinha a se encaixar num modelo político basicamente parlamentar não fora capaz de atender as demandas da população. A guerra continuava enquanto a população na Rússia continuava a sofrer. Os Bolcheviques liderados por Lênin fizeram a revolução de outubro (novembro pelo nosso calendário), dando origem assim a primeira revolução socialista da história.
 
 

     Um país atrasado como a Rússia surgiu a revolução. Nas palavras de Gramsci: Foram revolucionários que criaram as condições necessárias para a realização completa e plena do seu ideal. Criaram-nas em menos tempo de que o teria feito o capitalismo”. Vemos então que apesar das condições materiais da Rússia não estarem completamente formadas, os próprios revolucionários criaram essas condições. A ideologia foi mais forte do que qualquer limitação teórica e material. Lênin soube perceber a oportunidade história única que se apresentou, e tomou um passo que mudou a humanidade para sempre.

    Desta forma quero dizer que não adianta as condições objetivas estarem formuladas com o pleno desenvolvimento da economia capitalista, se o trabalhador não for conscientizado. E por trabalhador não me refiro somente ao operariado fabril, mas sim a todos os ramos do trabalho que são alienados pelo capitalismo. A crise econômica de 2008 que até agora mostra seu efeito, principalmente em países como Grécia, Alemanha, Portugal e Espanha não deram início por si sós a revolução socialista. A revolução é feita por pessoas e não pelo próprio sistema. Não basta esperar de braços cruzados uma situação propícia, como se a massa fosse se revoltar devido a uma grande crise e automaticamente lutar por uma revolução.

     Na verdade, grandes crises e problemas na sociedade por vezes fazem elas aderirem ao fascismo, como no caso da Alemanha e Itália. O Fascismo sempre se apresenta como uma solução mais rápida e de maior compreensão. Para a sociedade não cair no fascismo em momentos de crise, a conscientização das massas deve ser feita a todo o tempo. Para a revolução ser vitoriosa, o fator mais importante é o trabalhador conscientizado, combativo. É dele que Marx se refere como o coveiro do capitalismo. Este foi um fator que Lênin soube perceber e usar muito bem no caso da Revolução Russa.

Bibliografia: GRAMSCI, Antonio. A Revolução Contra O Capital. In: http://marxists.org/portugues/gramsci/1917/04/24.htm



1 Como tentou Salvador Allende no Chile e como Hugo Chavez tenta fazer hoje na Venezuela.

domingo, 7 de outubro de 2012

História do Futuro


Houve um tempo em que tudo era muito estranho, mas ao mesmo tempo estranhamente normal. As notícias sobre sequestros, assaltos, estupros, violência, tráfico de drogas, já não causavam espanto. As pessoas não se interessavam por tais assuntos, preferiam ignorar. Existia uma tal de “democracia autoritária”. As pessoas não entendiam de política, não se interessavam por política, não participavam da vida pública, porém votavam. Deixavam ser governadas, pagavam para ser governadas. E isso não era questionado, pelo menos não por grande parte da população. A maior preocupação da grande maioria era o “momento”. Viver o momento, trabalhar para ter dinheiro, ter dinheiro para comprar sua casa, seu carro, sair pra festas, ter relacionamentos que por muitas vezes eram tão egoístas e mesquinhos quanto a sociedade em que se vivia. Era um reflexo dela. O amor não era o que nos movia. Procurávamos ser amados em uma sociedade em que só valorizava o dinheiro, as coisas materiais. Então acabamos por nos tornar objetos. Éramos usados e descartados por pessoas. Por ditos “amigos”, namorado(a)s, patrões e até por alguns familiares. Isso levou com que muitos se isolassem. No início do século XXI a depressão aumentava cada vez mais. Os jovens sem perspectiva, muitos querendo alcançar a tal “felicidade” prometida pelo sistema capitalista vendia seu tempo, seu corpo para grandes corporações, trabalhando freneticamente para aumentar capital. recebendo para viver, mas para viver uma vida sem sentido. E estávamos tão acostumados a isso que riamos e ridicularizávamos quem pensava diferente. Sim, existiam pessoas que pensavam diferente. Eram idealistas. Queriam mudar, lutavam, protestavam, tinham algo diferente na alma, algo especial que muitos desconheciam. Eram poucos, mas o suficiente pra incomodar os poderosos. Mais enquanto maior parte da população vivia na ignorância o sistema ainda se mantinha de pé.

 Porém, algo aconteceu. O sistema tornou-se cada vez mais opressor. Os recursos naturais ficaram escassos. A população pagava as consequências enquanto a burguesia ainda se mantinha no luxo. Exigia-se cada vez mais e mais sacrifício da população. Guerras ocorreram. Foi-se grande o sofrimento do povo. Porém, o grupo pequeno de idealistas que não era ouvido, agora chamava a atenção do povo com suas ideias de revolução. Muitos entraram pra esses grupos e partidos que falavam dessas ideias surgidas no Século XIX, porém que se mostravam muito atuais. Soldados se recusaram a lutar, Trabalhadores pararam fábricas. Surgiu uma pessoa em especial. Tinham muitos grandes homens e mulheres, mas um em especial chamou a atenção do povo. Ele não parecia ter medo, não parecia se importar com sua própria vida, tinha uma grande coragem e um discurso que impressionava a todos. Seu nome não cabe colocar aqui, pois não era movido por interesses pessoais. Mas existia uma ideia por atrás do homem. Uma idéia que não morria, algo que era eterno. Foi desta forma que começou. O que parecia impossível estava se tornando real. Aqueles que diziam ser utopia não podiam acreditar que o sonho finalmente estava se tornando realidade. E essas pessoas que tanto duvidaram estavam tão acostumadas com o antigo sistema que não podiam viver sem ele. E pegaram em armas para defendê-lo. Mas dessa vez foi diferente. As pessoas tinham finalmente acordado, não tinha como voltar atrás. Estavam cansadas de uma vida tão fútil, queriam experimentar algo novo. E mesmo que não desse certo, preferiram tentar do que simplesmente deixar as coisas como estavam. E desta forma governo por governo foi caindo e substituído por um governo popular, uma sociedade onde não existiam mais classes sociais e todos trabalham não para si mesmo, mas para o bem de toda a sociedade. Essa história pode parecer maluca contada para você que não viveu tudo isso. Mas eu juro, existiam pessoas que achavam que a nossa sociedade atual não era possível. Achavam ser o socialismo algo impossível, que não daria certo. Provamos a essas pessoas que estavam erradas. Que nada é impossível quando se está determinado e quando pessoas se unem por um ideal.