quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Democracia e Ditadura

II – Democracia e Ditadura no Socialismo




No Manifesto do Partido Comunista, Marx diz: “na sociedade burguesa, o capitalismo é autônomo, enquanto o indivíduo que trabalha não tem autonomia nem personalidade. À supressão dessa relação a burguesia chama supressão da personalidade e da liberdade. E com toda razão! Trata-se, de fato, da supressão da personalidade, da autonomia e da liberdade do burguês.”

O futuro Estado Socialista pretende suprimir a democracia burguesa. Uma democracia de privilégios não se encaixa no conceito de uma democracia para todos. A democracia só será real quando deixar de servir a uma ínfima minoria. A democracia será real quando não existirem mais classes sociais.

A liberdade e democracia para todos serão alcançadas quando o mundo todo chegar ao estágio comunista da revolução. Quando não existirem mais exploradores, ricos e pobres, classes sociais. Quando atingirmos esse estágio, poderemos falar de uma democracia para todos. Porém, para se alcançar o comunismo é necessário passar pela etapa socialista. No socialismo, a ditadura do proletariado é necessária para se romper com a resistência dos capitalistas.

Lênin discute essa questão muito bem, ainda no livro O Estado e a Revolução, quando diz: “A ditadura de uma classe é necessária, não só a toda a sociedade dividida em classes, em geral, não só ao proletariado vitorioso sobre a burguesia, mas ainda em todo o período histórico que separa o capitalismo da sociedade sem classes do comunismo” (Lênin, p.44).

Podemos ver então que a ditadura do proletariado é necessária enquanto não se extinguem as classes sociais. No período de passagem do capitalismo para a sociedade sem classes do comunismo, a ditadura do proletariado é necessária para quebrar a resistência da burguesia.

A ditadura do proletariado é então democrática para o povo e ditatorial para a burguesia, enquanto a democracia burguesa é “democrática” para a burguesia, porém ditatorial para o restante da população. Lênin continua a dizer: “A ditadura do proletariado, período de transição para o comunismo, instituirá pela primeira vez uma democracia para o povo, para a maioria esmagando ao mesmo tempo, impiedosamente, a atividade da minoria, dos exploradores. Só o comunismo está em condições de realizar uma democracia realmente perfeita” (Lênin, p. 111).

Porém, o que fazer para que essa ditadura do proletariado não se torne uma ditadura contra o proletariado? Na Rússia stalinista, a ditadura da classe trabalhadora tornou-se ditadura do partido único contra a toda a sociedade. Na Rússia, quebrou-se sim a resistência da burguesia, porém, também era perseguindo e acusando de contra-revolucionário a todos aqueles que não pensassem igual ao Partido. O socialismo soviético foi construído de forma unilateral e autoritária pelo partido e seus burocratas e não de forma dialética com a participação popular e de outros grupos ou até mesmo partidos de esquerda. Desta forma, os trabalhadores também passaram a ser reprimidos por essa nova ditadura e privados de sua liberdade.

O que fazer para que isso não ocorra novamente? A necessidade de repressão dos trabalhadores se deveu a não-conscientização dos mesmos. Vistos que muitos deles se encontravam alienados do processo político na época capitalista, ainda permaneceram alienados no socialismo. Desta forma, muitos deles poderiam passar para o lado da burguesia, influenciados pelo discurso demagogo e apelativo destes. A burguesia, em seu discurso, diz que na época do capitalismo existia liberdade e que agora o que existe é ditadura. A ditadura destina-se a classe burguesa, mas esta faz parte do povo acreditar que a ditadura é sob toda a sociedade. Desta forma, parte dos trabalhadores passa a apoiar a burguesia, existindo a necessidade então do Estado ampliar a sua ditadura a setores da população.

A única alternativa para que isto não ocorrer é justamente a conscientização dos trabalhadores. Antes de se por fim a ditadura política da burguesia é necessário por fim a ditadura ideológica da burguesia.

Necessitamos então primeiramente de uma revolução ideológica. É necessário que o povo se conscientize, pois caso o contrário, não haverá revolução. E como será essa revolução ideológica? Através das escolas? Também. A escola é uma forma de dominação burguesa, como já foi visto aqui. Por isso torna-se necessário que os marxistas invadam as escolas, principalmente nos ensinos de história, geografia, literatura, ciências sociais e filosofia. O ensino deve passar a favorecer a classe operária, e não a burguesia. Porém, é necessário também a conscientização por outras formas. Discursos públicos, panfletagem, peças teatrais, manifestações, greves, dentre outros. O partido, no qual devem se agrupar os revolucionários tem de realizar tais funções. Atualmente, a maioria dos partidos da esquerda brasileira limita-se a reuniões e congressos no qual participam apenas intelectuais pequeno-burgueses. O linguajar utilizado por esses partidos são por demais teóricos e complicado. Um partido comunista tem de se expandir. Chamar a atenção das classes mais baixas. Recrutar membros nos colégios, faculdades, fábricas, associações de trabalhadores, etc. Abrir sua visão única de mundo, para uma mais diversificada com o objetivo de também atingir setores religiosos.

Em outras palavras, o partido tem de se reformular, abandonar o modelo de socialismo do século XX e abrir-se para uma nova visão de mundo além do bolchevismo. Aplicar a dialética, pensar na aplicação de um socialismo brasileiro. Tem também de se unirem uns aos outros, ultrapassando a velha discussão sem sentido sobre Stalinismo X Trotskysmo. Só com união e reformulação, o movimento comunista brasileiro estará apto a levar adiante o comunismo para a América latina e para o mundo. Caso contrário, o comunismo estará condenado a ser uma lembrança distante na história mundial.

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Está ae galera. Assim eu completo o meu texto com este segundo capítulo. Abraços, feliz natal.

2 comentários:

  1. ou seja, a democracia só existirá quando a tua turminha tiver mandando no pedaço.

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  2. Esse líder precisará ser sábio, muito sábio!!!
    Não é qualquer estulto que pode implantar o Comunismo, precisa-se de um homem que com poder nas mãos agiria do mesmo modo anterior à tomada de poder, e após a revolução repartisse o poder com o povo. Na minha opinião, pode ser falha, no entanto, o poder na Ditadura Proletariada não poderia ser centralizado, acumulado nas mãos do Estado, consequentemente administrado pelo revolucionário ou um grupo revolucionário que implantaria o socialismo. O certo seria um poder "democrático", onde seria dividido por habitante das cidades. Por exemplo; Os habitantes da cidade de São Paulo seriam administradores de todas as empresas, indústrias da cidade, do transporte, de todos assuntos executivos, legislativos, e o judiciário seria formado por membros independentes e imparciais em cada cidade. Consequentemente os habitantes de todas as cidades do Brasil seriam seus próprios representantes e administradores com um poder judiciário independente que não terá nenhum poder político tão pouco econômico.
    Porque para mim o poder não é algo palpável, e não precisa-se do administrador centralizado que acumule poder, como o Estado.
    O cidadão da cidade de São Paulo, apesar de administrar mais empresas, no entanto terá o mesmo poder que o cidadão de Rio Branco no Acre. Com a nova CONSTITUIÇÃO implantada, o cidadão criará a consciência que todos terão a mesma influência política, social e econômica dentro de seu país!
    Por fim, há um grande risco para a implantação do comunismo, no processo socialista, de acumulação de poder, onde o povo não terá acesso a ele, e o Estado será o administrador, correrá o risco de se transformar em um opressor, ficar mais forte que o povo! Mesmo o povo "vacinado" contra a "democracia" burguesa, conscientizado do processo socialista para a implantação definitiva do comunismo, haverá um risco gigantesco de surgir uma nova URSS, China, Cuba, aqui no Brasil, com um Estado que tome pra si todos os meios de produção, consequentemente, todo o poder.

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