"Que as classes dominantes tremam à idéia de uma revolução comunista." (Karl Marx)
domingo, 28 de agosto de 2011
Breve explicação sobre materialismo dialético
A teoria de Marx é revolucionária. Mostra como o homem, através de suas próprias ações pode se libertar da opressão e das desgraças que ele mesmo criou. Diante da teoria marxista, somos incapazes de ficarmos indiferentes, como se ela não afetasse o nosso dia a dia, e os diferentes aspectos de nossa sociedade. Ignorar o que Marx disse não é o mesmo que ignorar um simples comercial de xampu. Podemos ficar indiferentes quando o que está sendo posto em jogo é o futuro da humanidade? O conflito capitalismo versus socialismo não é um simples conflito político. O que se está em discussão é se o homem sobreviverá no próximo século. Se ainda existirão recursos naturais, ou se o capitalismo tratará de destruir a tudo. O que está em jogo é uma nova forma de sociedade, de vida. Uma sociedade onde o trabalho não seja sinônimo de alienação e opressão, mas sim de liberdade.
Alguém que resolve tomar posição e se definir como comunista precisa, primeiramente, reconhecer que está no capitalismo à fonte da maioria dos males da humanidade. Segundo, como diria Lênin, é preciso “estudar, estudar e estudar”. Estudar tanto o funcionamento da sociedade capitalista, quanto a própria teoria marxista. E para se entender o marxismo é preciso conhecer os princípios de sua filosofia. Conhecer o que é materialismo histórico e materialismo dialético. Marx e Engels, baseando-se na filosofia hegeliana, desenvolveram a teoria do materialismo dialético. A dialética hegeliana tem um caráter idealista. A dialética, em contraposição com a metafísica, explica o mundo através do conflito de idéias. Enquanto para a metafísia o mundo é sempre o mesmo, o homem sempre terá a sua mesma natureza e será sempre igual. Ou seja, algum utlizando-se da metafísica poderia dizer que o mundo e a sociedade não mudará porque o homem tem a natureza má. Sempre existiu exploração em todas as sociedades e, portanto, sempre existirá. Os metafísicos analisam assim, não o todo, mas o objeto em sua forma isolada. Analisa, por exemplo, o Estado por ele mesmo. Assim, analisa por suas formas jurídicas, por sua lei oficial, por seu discurso. Não o relaciona com o restante da sociedade.
Na dialética, o objeto está em constante mudança, não tendo uma natureza imutável e uma ordem inalterável. Não se analisa partes isoladas, mas o objeto e sua relação com o meio. O Estado neste caso não teria lógica se analisado de forma separada. O Estado é um componente da sociedade, não mais nem menos importante do que o todo. Ele deve ser entendido como um instrumento da sociedade a qual pertence. A qual classe social está a serviço, defendendo quais interesses, se é afetado pela economia e a que ponto a sociedade altera este Estado. Assim, só podemos investigar a realidade como um todo. As coisas são analisadas em seu movimento.
Segundo o método dialético, as idéias então não são imutáveis. A sociedade evoluiu graças à própria ação do homem, e das mudanças em seu pensamento, do seu modo de ver o mundo. Das mudanças decorrentes também do mundo material, das forças de produção, etc. Por exemplo, uma idéia ou forma de ver o mundo que vigorava durante o absolutismo se choca com uma Nova idéia de sociedade do liberalismo, criando assim um novo modelo, que é a sociedade industrial moderna. O ideal do absolutismo é a tese, que se confronta com o liberalismo que é a antítese. Deste confronto, surge a síntese, que é a sociedade contemporânea. Essa nova sociedade, com seus novos valores formam uma nova Tese, que é a sociedade capitalista. Assim, a antítese do sistema capitalista é o proletariado que formaria uma nova síntese: o comunismo!
Porém, a dialética de Hegel é idealista, ou seja, o princípio de tudo é o Espírito universal. A consciência, o espírito, é quem da forma ao material. Marx propõe a inversão desse esquema. Para Marx, é o mundo material quem dá as condições para o surgimento das idéias, da consciência. Este é o materialismo dialético. O materialismo histórico é o método dialético usado para se analisar a história das sociedades. Historicamente, o desenvolvimento das forças produtivas, interferindo diretamente nas relações sociais de produção criam, criam a luta de classes. Por este motivo, Marx explica em O Manifesto Comunista que “a história da humanidade até os dias de hoje tem sido a história da luta de classes”. São as condições materiais de opressão de uma classe por outra que dão as condições ideológicas necessárias para transformação da sociedade. Porém, lembre-se que na dialética não se analisa as partes em isolado. Ou seja, a luta de classe é a expressão de como se da essa luta, porém, os processos que a rodeiam como religião, cultura, política, ciência, etc. compõem ao todo esta sociedade na qual se da o confronto de classes.
Este materialismo marxista foi de certo influenciado por Feuerbach (que também bebeu da fonte de Hegel). Feuerbach critica A Idéia Absoluta de Hegel, que seria a representação de Deus. Para Hegel, o Estado Perfeito seria formado primeiro pela Idéia Absoluta para depois ser posto em representação no mundo físico. Feuerbach procura investigar o mundo como ele se apresenta, colocando a idéia religiosa de Hegel de lado. Porém, Feuerbach, apesar de ser materialista, coloca o homem, o ser, como um produto isolado, individual, não o relacionando com o conjunto da sociedade. Reside ai a crítica de Marx a Feuerbach. O homem é um ser social, relacionado ao conjunto da sociedade, só podendo ser entendido se comparado a ela. O homem é um produto de seu tempo, inclusive sua religião, que serve a este ou a aquele interesse. No capitalismo, a religião serve então aos interesses da burguesia, não sendo um simples delírio do homem, mas uma forma de alienação e controle social.
Feuerbach também não dava um sentido prático a sua teoria, ficando somente no campo da análise. Já Marx dava um sentido revolucionário ao seu materialismo, chamada de práxis. Marx resume isto em sua última Tese contra Feuerbach: “Até agora, os filósofos só fizeram interpretar o mundo de maneiras diferentes; cabe transformá-lo”. Feuerbach não considera a ação do homem como transformadora da realidade, caindo no campo de vazio. Marx, ao juntar o materialismo de Feuerbach com a dialética de Hegel, percebe que A atividade humana constrói a realidade. Como o próprio Marx afirma em o 18 Brumário de Luís Bonaparte: “Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade, em circunstâncias escolhidas por eles próprios, mas nas circunstâncias imediatamente encontradas, dadas e transmitidas pelo passado”.
As condições do mundo material da origem a consciência revolucionária que é, portanto, capaz de transformar a sociedade, porém, não exatamente como planejado, pois tudo está limitado a realidade apresentada e as idéias devem ser adaptar a esta. Esta é a práxis, fundamental para se entender a teoria marxista. O marxismo, portanto, não é um dogma, mas uma sim teoria viva, que se adapta as condições da realidade.
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